Encontros da Educação e Pensamento (Parte II): Organização Mundial de Saúde considera assustadora a falta de autonomia dos adolescentes

Gabriela Trevisan, Madalena Wallenstein e Elisa Marques sensibilizaram, na Fundação Lapa do Lobo, para a cidadania infantil e para a educação artística.

 

Os Encontros da Educação e do Pensamento ficaram marcados por mais três intervenções de grande qualidade, que centraram as atenções em aspetos relacionados com a cidadania infantil e a ligação entre educação e artes.
Gabriela Trevisan, professora e investigadora, sustentou que “as crianças têm visões próprias e não iguais às dos adultos,mas a tendência é não levar isso a sério e pensar que as perspetivas delas não resultam, logo a participação da criança é muito importante e está consagrada nos seus direitos”. Aludindo ao projeto da Escola da Ponte de José Pacheco, reconheceu que “está sempre na nossa cabeça, por tanto se tentar, mas ao mesmo tempo a escola vai sobrevivendo”, afirmou. “As crianças também devem ter ação política, no sentido mais abrangente de fazerem parte de comunidades mais vastas e tomarem decisões, mas com os adultos a mediar”, defende, admitindo que “os processos de co-decisão são muitos poucos”  e que “a autonomia da criança é fundamental”. “As crianças raramente são ouvidas e envolvidas, pela atitude critica ou construtiva, num projeto educativo”, daí que defenda que “as assembleias de turma são muito importantes para uma relação mais igualitária entre professores e alunos”.
A Coordenadora do Projeto Alcateia da FLL e organizadora dos Encontros, Ana Lúcia Figueiredo, alertou para o grande crescimento do ensino doméstico : “Triplicou o número de famílias em que a escolaridade é feita em casa – de 199 para 564 – é assustador porque já não estão a confiar no ensino público”. Gabriela Trevisan chamou ainda a atenção para dados da OMS que apontam para uma “assustadora falta autonomia nos nossos adolescentes”.
Madalena Wallenstein, Coordenadora do Projeto Educativo do Centro Cultural da Belém “Fábrica das Artes”, explicou que a ideia é, através das artes, “experimentar o que não é óbvio”. “Dar um abalo no óbvio e questionar, questionar muito – é para isto que serve a arte”, defende, afirmando que “o pensamento crítico nasce quando nascemos”. Outra ideia chave que deixou foi “a cultura é o que permite que o ensino se torne educação”.
Elisa Marques, Coordenadora do Programa de Educação Estética e Artística da Direção Geral da Educação, explicou que este programa pretende ser “uma formalização prática da teoria, sobre a educação artística”. “Está consagrado na Lei, que todas as crianças têm direito ao acesso à cultura, mas esse desígnio nunca foi atingido”, lembrou, revelando que “conseguimos já implementar o Programa em 117 Agrupamentos de Escolas, mas este desafio não tem sido fácil”.
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